terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Você não merece ouvir isso!

Ao contrário do que muita gente pensa, a violência contra a mulher não acontece só quando há socos e pontapés. Aquela barbaridade que ele diz e você deixa passar, o comentário maldoso que fere a alma e a indiferença cotidiana também são formas de agressão – que destroem a auto-estima. E podem contribuir para você engordar! Veja como é possível se defender.

Televisão ligada no horário nobre. Na tela, Lilia Cabral na pele de Catarina e Jackson Antunes interpretando Leonardo, o marido violento. Mais uma cena da novela A Favorita, da Globo. Mais uma cena que, embora às vezes exagerada, retrata a realidade. Assim como Catarina, muitas mulheres são desprezadas dentro de casa por seus companheiros. Não se sabe ainda como a história da personagem terminará, mas, na vida real, a agressão não precisa ser física para causar estragos. A violência psicológica é extremamente nociva. Como é invisível, fica mais difícil reconhecê-la e se defender. Apesar de não provocar escoriações, destrói a auto-estima. Com a auto-estima em pedaços, é mais complicado sair de uma relação abusiva. Tem mais: a humilhação verbal abre uma brecha para a violência física. “O tapa aparece subitamente, mas é fruto de uma relação desrespeitosa. A violência é um processo que começa na agressão verbal”, diz Tânia Rocha, professora de ciências sociais da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia .

O corpo reage e engorda

Viver sob constante humilhação acarreta vários danos. O relacionamento sofre, a família é colocada em risco, o lar tem papel invertido – em vez de aconchego, representa insegurança. Isso gera descompasso em outras áreas, como na alimentação. Você está infeliz, come mais, engorda, fica menos confiante, torna-se mais vulnerável às críticas, fica infeliz, come mais... “A mulher sente falta de afeto e respeito. Uma das maneiras de apaziguar essa carência é exagerar na comida, que serve para preencher outros vazios”, diz Marco Antonio De Tommaso, psicólogo e consultor da BOA FORMA. Mas exagerar à mesa não é a única forma de descontrole – é apenas a mais visível no espelho. “Você também tende a ficar desatenta no trabalho”, diz Tommaso.

Na hora em que escuta uma agração, a mulher pode se perguntar se ela não está sendo intolerante por associá-lo à violência verbal. Ou se, no fundo, o marido fez apenas uma piada infeliz. “Um dos caminhos que fazem perpetuar a violência é a banalização dos acontecimentos”, diz Tânia Rocha, socióloga. “A vítima se sente mal, fica desconcertada, triste, mas prefere acreditar que o que aconteceu é natural e segue em frente, muitas vezes sem saber que com isso sinaliza que suporta qualquer abuso”, completa.

A auto-estima despenca porque ele diz isso ou ele se sente à vontade para fazer comentários maldosos porque a auto-estima já está lá no pé? Sempre que uma pessoa se sente livre para fazer mal a você é porque seu amor-próprio está lá embaixo. “Quem não confia em si mesma, tem medo de sinalizar para o outro até onde ele pode ir e muitas vezes se convence de que ouviu o que ouviu porque fez alguma coisa errada”, diz Tommaso, psicoterapeuta. Assim, fecha os olhos para o desrespeito e deixa passar. “Com o receio de perder o companheiro e ficar sozinha, tem mulher que tolera qualquer coisa. O parceiro sente essa dependência e a relação sofre.”

Uma das maneiras de se proteger é estar sempre atenta à relação e não ter medo de se perguntar diariamente: “Esse homem me respeita?” Uma relação a dois precisa disso para se manter. E você, como responde a essa pergunta?

Ser ofendida não é natural
Se você sentiu-se mal por algum comentário do seu marido, considere que você tem um problema e pense em como resolvê-lo. Pior ainda se isso acontecer de modo constante. O natural e esperado é uma relação com carinho e afeto.

Lições para se proteger

Seja assertiva, converse
Não tenha receio de expor o seu ponto de vista e o seu descontentamento. Quando você se mostra confiante, a outra pessoa tende a respeitá-la.

Não tenha medo de ficar só
Foque no seu bem-estar e não deixe de tomar uma atitude por receio de ser abandonada. Se isso acontecer, pense bem: talvez você saia ganhando.

Tenha com quem compartilhar
Busque uma rede de apoio, pode ser a família, os amigos. Explique como se sente e permita que as pessoas a acolham. Isso vai fortalecê-la.

Cuide da auto-estima
De novo ela. Quando você gosta de si mesma, não tolera violência. Por isso, cuide-se, faça o que gosta, aceite-se e ganhe o respeito das outras pessoas.

Fonte: http://boaforma.abril.com.br/edicoes/258/fechado/viva_melhor/violencia.shtml

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